Poesias

Aguardente de torar

Na budega de Biu Tonha
numa cidade do interior
num sábado bem cedinho
clima de muito calor
resolvi tomar uma pinga
junto de quatro meninas
conhecidas que só banana
foi quando entrei no bar
e mandei agilizar
cinco lapada de cana.

Esqueci foi de falar
triste da minha inocência
num disse qual era a cana
de minha preferência
e o garçom que num é besta
trouxe pra eu tomar
última categoria
foi abrindo a guela,
bater no buxo 
e começar a agonia.

Aguardente ruim da mulesta
comecei uma confusão
Gritei: isso lá presta
só tem gosto de sabão
chamei o danado do garçom 
puxei pela camisa 
e meti-lhe um empurrão

jogue esta poiqueira fora!
vim aqui pra ser cliente
quis apenas uma dose
vou terminar doente
e se pegar este garçom
meto a mão por cima
na boca num fica um dente

 

tentaram me acalmar
me chamando de senhor
comigo ninguém se mete
viro turbina de motor
passo por cima de quem vier
seja lá quem for

 

pense num dia de azar
comigo acontecendo
olhei pra porta do bar
vi umas luzes acendendo
era a polícia militar
que veio me buscar
pra saber o que to fazendo

Dentro da viatura
três policial arrumado
um revólver na cintura
do doutor delegado
o cabo Juarez,
o soldado Serafim
estes dois desarmado.

Biu Tonha e as meninas 
começaram a se esconder
foram pra trás dum pilar
isso pra ninguém ver
dei fé chegou o delegado
todo chato e abusado, 
querendo me interrogar
sei que o cenário tava armado
o delegado preparado
doido pra me levar

Juarez e Serafim
chegaram perto de mim
comecei a me afastar 
falando bem baixinho
disse: autoridade
vou tentar me explicar
foi quando me inspirei
de Doutor eu o chamei
e pedi pra se sentar.

lá de fora saiu um grito
do garçom muito nervoso 
prende esse maldito
ele é muito mentiroso
Serafim disse: Venha comigo!
Vou levar pro calabouço

Deixe eu contar
A história pro senhor
Se quiser me levar
Pode saber que eu vou
Mas na verdade este cabra 
Num é santo e me enrolou


entrei neste bar
fui até muito educado
pedi pra colocar
um copo caiculado
mas quando fui tomar
o que ele tinha butado
cheguei a desmaiar
vendo céu todo estrelado.

Vossa Excelência
Deixe me aproximar
Quero no seu ouvido
Uma coisa lhe contar
Que despois que eu disser
O senhor vai liberar

Com calma e paciência
Fui me aprochegando
Sentei na cadeira, bem perto
Nisso todo mundo olhando
informei ao delegado
O que tava se passando.

Depois que terminei
O delegado ficou mudado
Levantou-se da cadeira
Com o jeito envenenado
Num se aperrei hômi
tu já ta liberado
Isso dizendo pra mim
Bartolomeu, o delegado

Serafim, solte o homem
Pegou o cara errado
Que cana era essa?
Perguntou o delegado
Era uma papuda
Respondeu o atrapalhado
Fechem este boteco
E leve ele amarrado

Nisso Serafim soltou
O meu braço apertado
Juarez levou
O garçom arrastado
E Bartolomeu, agora amigo meu
apertou a mão, pediu desculpa
Tá desculpado.

Num segundo, 
o carro levantou poeira
As meninas chegaram 
numa tremedeira
E Biu Tonha, pelos fundos 
fugiu numa só carreira.

Passado o constrangimento
Vinheram me perguntar
O que eu tinha dito
Pra Bartolomeu,
num instante me soltar.

Ora! disse a verdade

O que era pra contar:
Delegado, tenho desejo!
Só bebo Caranguejo
Aguardente de Torar.

Oração de Frei Galvão: a tréplica

 

Meu ex-amigo frei
homem chamado Galvão
aquele que insinuei
ser do feriadão
retiro minhas palavras
de admiração

Passei um dia inteiro
rezando, em comunhão
todo povo brasileiro
com a mulesta da oração
e tu, na véspera do feriado
vem dizer que num tem mais não.

se tu soubesse a desfeita
que outrora me fizera
me esguelei, gritei
chamando a galera
agora to com vergonha
também, quem dera.

tentou falar bonito
se expressar com inteligência
mas até o teu chefe
perdeu a paciência
e mandou tu ir dormir
sim senhor minha excelência

Ta pensando que sou besta
E vou ficar calado
To avisando a todo povo
Que to inconformado
E este tal de frei Galvão
Num vai ser canonizado

O problema num é nem
Num ter o feriado
Nóis ia viajar também
Tava tudo programado
E agora vou dizer: 
Mulé, ta cancelado.

Nem santo Antonio 
que é velho e cansado
arruma casamento pra vei
pra novo, pra casado
e tu que é novo na profissão
parece que é tapado

Nesta hora já pensei
O que poderia ta errado
Tanto que orei
Pra este bendito feriado
E na véspera do tal cujo
Vim saber que foi furado

Sabe até que duvidei
de que lado tá o santo
Se o nome que butei
espalhei por todo canto
realmente descobri
a verdade com espanto.

Depois de muito tempo
de fazer reflexão
Passei o dia inteiro
E cheguei a conclusão
Que o problema num era nele
No danado do Galvão

Fui pensando, estudando
Fixo na situação
me sentei bem no recanto
me peguei em oração
resolvi pedir desculpa
ao Santo Frei Galvão

O santo não tem culpa desta situação
Na verdade estamos triste sem feriadão
Olhei pro lado, olhei pro outro
e vim um sorriso maroto
diz em quem? sabe não?
na cara do patrão.

E-mail de Frei Galvão ao Brasil

 
Meus amigos brasileiros
desta belíssima nação
venho por esta agradecer
do fundo do coração
o gesto de humildade
carinho e adoração. 

mil pedidos recebi
deste povo encorajado
c'umas palavras tão bonita
fiquei lisonjeado
que arrumasse por aqui
um danado de feriado 

com o chefe me sentei
alegre, animado
ele disse: eu já sei
já ta vetado 

Mesmo assim fui tentar
cumprir com a oração
por aqui, por ali
com argumentação
perguntei logo
qual o santo do feriadão? 

Ele disse: e eu sei?
foi quando me comparei
com nosso amigo São João 

Mês de Junho, mês de festa
até fogueira se acende
agora um feriadinho a mais
se num dá, ninguém entende 

é forró, pamonha
o céu cheio de balão
tudo pra comemorar
a noite de São João 

tem até uma cidade
do nordeste brasileiro
que é festa de torar
30 dias, o mês inteiro 

e eu? num tem nada
num tem fogueira
num tem festa
só vai ter gente trabalhando
triste e franzindo a testa. 

Quando fui continuar
com minha alegação
ele fez parar
com tal comparação
disse que pra mim
já tem Lula, o papa e a celebração. 

Mesmo assim resmunguei
da oração que me fizera
ele disse: cale a boca
que nem santo ainda era 

Realmente desisti
desta tal falação
fui pro quarto me deitei
com muita comoção
e vou logo avisar
que é melhor vocês tirar
o Feriado de Galvão

Oração de Frei Galvão

Neste mês tão comprido 
que antecede o São João 
Que tal um feriado? 

Até mesmo feriadão
que é pra nós comemorar 
Nosso Santo Frei Galvão 

Homem Santo, Homem Puro 
mil milagres sucedeu 
Trouxe o Papa ao Brasil 
Pois aqui ele nasceu 

Nada Mais justo e Fiel 
exaltar o santo Frei 
um feriadinho a mais 
por que não? 
Se até o papa vei. 

Agora já falando 
direto com o santo 
to com tu e não abro, 
agiliza o feriado 
que é teu nome em todo canto 

Já que num foi aprovado 
pelos deputado federal 
Só me resta orar por vós 
que tu sejas nossa voz 
no congresso nacional 

Nóis precisa tá em casa 
pra ver na televisão 
o papa benzeno o povo 
e a galera num só coro 
Feriado de Frei Galvão 

Santo é santo tem poder 
força sobrenatural 
só basta tu querer 
que é feriado nacional 

Pra resumir o meu pedido 
vou fazer convocação 
vou chamar o bairro inteiro 
pra dar uma explicação 
tem santo pra tudo que há 
casamento a endividado 
e nós vamos nomear 
Frei Galvão do Feriado

 

Nadazavê

 

Eita que as férias chegou
Nós logo cedo acordado
Com rosto todo enfadado
A farda pendurada em pé
Na mesa cuscuz e café
Jornal da manhã na TV
Com os oi metade abrido
Ta tudo confudido
num tem mais nadazavê

 

Eita que as férias chegou
Despertador de vez desligado
Café da manhã cancelado
A hora ai pra ninguém
Celular desligado também
Dormindo até entardecer
Com rostim todo escondido
Isso num ta confudido
Tem tudo zaver

 

Eita que as férias chegou
um chau e um cheiro no oi
na porta num minuto se foi
a pasta levando na mão
inda mastigando o pão
a hora que me faz corrê
pro ônibus que vem entupido
Ta tudo confudido
num tem mais nadazavê

 

Eita que as férias chegou
Dá inté pra menino fazer
Sentindo o sol clarear
Pro ônibus num precisa correr
Se perder! Espera outro passar
Sem ter nada pra fazer
tem gente que fica mordido
Isso num ta confudido
Tem tudo zaver

 

Eita que as férias chegou
num tem pressa pra acabar
dinheiro no bolso
pra mode as contas pagar
aproveita pessoar
que daqui há um mês
nós tamo tudo fudido
voltando pra trabaiar

 

Meu nome é Frankneyson

 
Meu nome é Frankneyson
Sou poeta há pouco tempo
Vêm meus versos acontecendo
Numa rima organizada
Enfrento qualquer parada
Aceito em qualquer momento
Num sopro eu invento
Num tem nada decorado
Em cada cabelo meu
Vejo um verso pendurado.

Do meu pai veio Barbosa
Minha mãe, Inteligência
Nasci em Campina Grande
vivi na adolescência
Gosto de fazer rima
Poesia é ciência
escrevo dia e noite
não posso ficar parado
Em cada cabelo meu
Vejo um verso pendurado.

Fiz de tudo nessa vida
querendo fazer história
taxista, operador
agora conto vitória
no começo é um tormento
fiquei embaralhado
hoje rimo em poesia
canto coco embolado
Em cada cabelo meu
Vejo um verso pendurado.

Passei dias na escola
construí grande amizade
namorei, joguei bola
percorri toda cidade
O bem é minha essência
por isso sou tão amado
a família faz da vida
céu todo estrelado
Em cada cabelo meu
Vejo um verso pendurado

construí em poesia
um texto muito engraçado
disseram que não fizera
tinha apenas copiado
absurdo da mulesta
desse povo descarado
depois do verso agora
fica tudo comprovado
em cada cabelo meu
Vejo um verso pendurado

na frente de todo mundo
Me senti desafiado
passei semana triste
fiquei desconfiado
dei a volta por cima
poesia ou em rima
prometo que toda semana
um verso será contado
porque em cada cabelo meu
Vejo um verso pendurado

Minha Dupla Brasileira

 

Meus amigos, minhas amigas
faço-lhe apresentação
de uma dupla conhecida
como Perigo da Nação
é que são tão famosos
e quando num mata d’um infarto
estrangula de emoção

 

Há quem diga que não goste
tímido diz: conheço não
M’estes cabras são tão fortes
Nem Gugu, nem Faustão
muito menos Raul Gil
Consegue mais ibope 
como os dois conseguiu.

 

Nunca gravaram um cd
muito menos um vinil
Fã clube num existe
sei nem se existiu
os lojistas querem ter
pros clientes que sumiu
Quando falo nestes dois
Chega sobe um arrepio

 

lembrei da minha infância
indera muito inocente
quando mãe e eu
fomos comprar remédio
tava um pouco doente
ela chegou no balcão e disse:
minha fia, quero ser cliente!

 

A mulher foi pr’um canto 
com a luz lá de Casa
e disse que pra liberar
tinha que consultar 
SPC e Serasa

 

Achei tão importante
os cara arretado
foi quando a mulé voltou
dizendo que consultou
e tava tudo liberado.

 

Um sorriso vi, 
da minha mãe saia
pensei que a dupla era
importante eu me sentia
tá na recordação
um mói de remédio comprado
sem pagar nenhum cruzado
Pensei: ô que dupla massa
estes dois lá em casa
num falta, 
nem quando for casado

 

Pense num sonho desgraçado
esse na minha infância
nunca fui realizado
só esse quando criança
e agora quero que se desfaça 
pois to já perdendo as calça
sem falar na esperança

 

Isso tudo começou
quando comecei a namorar
Achando que estava abalando
me danei a ir comprar
e aquela voz sempre falava
antes vejo SPC e SERASA
pro seu nome consultar

 

Hoje faz parte da minha vida
tem por mim admiração
mandam até umas cartinhas
fazendo solicitação
que se faça com urgência
uma rápida ligação

 

primeira vez que recebi
fiquei todo animado
a cartinha quando vi
li meu nome assinado
mas o conteúdo quando olhei
me deixou desconfiado

 

ô povinho insistente
me liga toda hora
o nome completo, o nascimento

isso já nem agüento
só pra confirmar
o que o mundo ta sabendo
comprei fiado,
agora to devendo.

 

Me diga quem nunca deveu?
cadê? ninguém respondeu.
ô dupla conhecida danada
por isso que nóis la de casa
Ta no SPC ou SERASA.